GEOGRAFIA
Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção no que o meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Eu quero chegar antes
Pra sinalizar o estar de cada coisa, filtrar seus graus
E vendo doer a fome nos meninos que têm fome
Calcanhoto, Adriana. Esquadros, 1992.
Enfim, ler e escrever em Geografia é:
• fazer relações entre mundo/sociedade com sua escola e livros;
Leitura e escrita sobre Geografia, atividades com imagens e mapas, trabalho de campo.
Além dos textos didáticos é preciso, nessa disciplina, ler o espaço - composto de paisagens naturais e culturais em transformação. Há também croquis, mapas, fotos e imagens de satélites que servem de apoio desde que sejam compreendidos. O aluno precisa entender também títulos, legendas e escalas.
Uma estratégia utilizada para ensinar a ler e escrever em Geografia é utilizar letras de música. Vejamos dois exemplos dados pelo professor Nestor André Kaercher, do NIUE da UFRGS.
Eu ando pelo mundo divertindo gente, chorando ao telefone
Em um trabalho de leitura atenta da música de Adriana Calcanhoto com os alunos o professor de Geografia poderá:
• Tentar fazer os alunos “verem cores” que nunca tinham visto e “prestarem atenção” em coisas até então imperceptíveis. Assim, estará estimulando-os a ler o mundo com outros olhos.
• Estimular os alunos a “ouvirem o seu irmão”, com respeito e atenção. Tarefa difícil sem dúvida, mas é um exercício pedagógico que nós, os professores, podemos ajudar a praticar.
• Levar os alunos e a si próprio a se indignar com “a fome dos meninos”. Isso é mais do que “dar geografia”, é discutir ética, política, enfim, o mundo em que vivemos. É que um conceito tão importante em geografia, o de “espaço”, não deve ser apenas o de palco passivo onde os seres humanos atuam. Ele é, também, elemento influenciador/limitador/organizador/estimulador de nossas ações. Isso é ensinar a ler e a escrever em Geografia.
Chego a ter medo do futuro
E da solidão que em minha porta bate
E eu gostava tanto de você
Eu corro, fujo dessa sombra
Em sonho veio este passado
E na parede do meu quarto
Ainda está o seu retrato
Não quero ver pra não lembrar
Pensei até em me mudar
Lugar qualquer que não exista
O pensamento em você
Maia, Tim. Gostava tanto de você, 1973.
Em um trabalho de leitura atenta da música de Tim Maia com os alunos o professor de Geografia poderá:
• Mostrar que, como o compositor captou, lugares não são apenas espaços “físicos” mensuráveis. Nada acontece fora do espaço.
• Relacionar estes espaços com os seres humanos que ali habitam para entender a sociedade e este espaço, esta parece ser uma das contribuições da geografia.
• fazer relações entre o que o professor fala ou o que ele lê nos livros e geografia com o mundo que ele vê na TV, pr exemplo;
• perceber que o espaço que vemos/pisamos é a síntese da sociedade em que ele está inserido, isto é, o espaço contém (e é contido por) aspectos políticos, econômicos e culturais.
• Adquirir uma visão de mundo, reconhecer e estabelecer seu lugar no espaço geográfico, o que inclui, também, a noção da possibilidade de sua exclusão.
KAERCHER, Nestor André. Ler e escrever a geografia para dizer a sua palavra e construir o seu espaço. In: NEVES, Iara C. B. et all (orgs.) Ler e escrever. Compromisso de todas as áreas. 6ª ed. Porto Alegre: UFRGS, 1998. p. 73-85.
SCHAFFER, Neiva Otero. Ler a paisagem, o mapa, o livro... Escrever nas linguagens da geografia. In: NEVES, Iara C. B. et all (orgs.) Ler e escrever. Compromisso de todas as áreas. 6ª ed. Porto Alegre: UFRGS, 1998. p. 86-103.
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